quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

eu digo-te

«Eu digo-te. Continuas em círculos, a exercer um poder que já não tem significado e que te traz desilusão. Continuas à procura de magicamente te encontrares, a partir de te poderem saber. Continuas a subir o sonho à procura do mito. Continuas num exercício de sedução que escraviza o objecto amado, acabando por desprezá-lo. E assim paradoxalmente desencantas-te, quando também só, na volúpia reclinada da tua causeuse, imaginaste um príncipe.
Mas amar é reconhecer o outro como diferente e não como um prolongamento de nós mesmos. É misturar-nos sem o medo de morrer, de matar, ou de perecermos os dois. É podermos viver o sentimento oceânico que dilui limites e não sabermos por vezes onde «eu acabo e tu começas».
Amar, é poder vir de coração descalço e dizer:
- Tem-me que sou tua!
Não te senti feminista, nem tão pouco femiista. Senti-te zangada, radical, militante de um qualquer rito satânico, com a divisa - «Ou crês, ou morres»! - pactos de sangue na iniciação do Segredo.
O segredo de ti, que vieste sem livro de instruções. O Ler-te, num livro de páginas eternas a escreverem-se sem tempo nem espaço.
Li-te e reli-te, no assombro dos sentimentos que se reflectiam em mim como um espelho. Não vejas frieza ou incompreensão nas minhas palavras, tão somente a forma que foi possível de manter-me lúcido. Um beijo.»

Marta Gautier em Tanto que eu não te disse (Relógio D'Água)

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