segunda-feira, 11 de abril de 2011

cogitações

«Sou mau, vejo-o agora - pensou, passado um minuto, envergonhado com o gesto antipático que acabara de fazer. - Mas porque gostam tanto de mim se eu não o mereço! Oh, se estivesse sozinho e não gostasse nunca de ninguém! Não haveria nada disto! É curioso: será possível que nos futuros quinze ou vinte anos a minha alma se torne tão resignada que eu me ponha em lamúrias diante das pessoas, chamando a mim próprio de bandido? Sim, precisamente assim! É para isso que vão condenar-me agora, é isso mesmo que eles querem... Ei-los num vaivém pelas ruas, e cada qual, já pela sua natureza, é um velhaco e um bandido, pior ainda - um idiota! Mas, se eu não for condenado, ficam furiosos, a ferver numa nobre indignação! Oh, que ódio eu tenho a todos!»

Fiódor Dostoiévski em Crime e Castigo (Editorial Presença, tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra)

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