segunda-feira, 25 de abril de 2011

debaixo da pele

«Durante o tempo em que ninguém sabia, ele considerara-se a pessoa mais desapaixonada do mundo, carregando um pesado fardo, um eterno suspense, sempre muito reservado, remetendo-se ao silêncio, nunca revelando aos outros nada, nem sequer os efeitos que tudo aquilo tinha na sua vida, nunca esperando condescendência e fazendo-se acompanhar apenas por aqueles que desejava. Nunca impusera a ninguém o incómodo de terem de lidar com um homem perseguido, apesar de se sentir bastante tentado a fazê-lo quando ouvia alguém dizer que estava verdadeiramente «perturbado». Se estivessem tão perturbados quanto ele - que nunca estivera apaziguado uma hora que fosse em toda a sua vida - saberiam o significado de tal segredo. Ainda assim, apesar de tudo, não era seu dever perturbá-los, e ouvia-os educadamente. Era por esta razão que tinha tão bons modos - mesmo que um tanto insípidos; acima de tudo, era por essa razão que, de forma quase sublime, se considerava um homem decente e altruísta num mundo ganancioso.»

Henry James em A Fera na Selva (Edições Quasi, tradução de Madalena Alfaia)

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