segunda-feira, 1 de agosto de 2011

amor

«Eu acreditava mesmo que o amor é o sangue do sol dentro do sol. A inocência repetida mil vezes na vontade sincera de desejar que o céu compreenda. Eu acreditava que se levantam tempestades frágeis e delicadas na respiração vegetal do amor. Como uma planta a crescer da terra. O amor é a luz do sol a beber a voz doce dessa planta. Algo dentro de qualquer coisa profunda. Eu acreditava que o amor é o sentido de todas as palavras impossíveis. Atravessar o interior de uma montanha. Correr pelas horas originais do mundo. Eu acreditava que o amor é a paz fresca de um incêndio dentro, dentro, dentro, dentro, dentro dos dias. Em cada instante de manhã, o céu a deslizar como um rio. À tarde, o sol como uma certeza. Eu acreditava que o amor é feito de claridade e da seiva das rochas. Eu acreditava que o amor é feito de mar, de ondas na distância do oceano e de areia eterna. Eu acreditava que o amor é feito de tantas coisas opostas e verdadeiras. Eu acreditava que nascem lugares para o amor e que, nesses jardins etéreos, a salvação é uma brisa que cai sobre o rosto suavemente.»

José Luís Peixoto em Uma Casa na Escuridão (Quetzal Editores)

Sem comentários:

Enviar um comentário