quarta-feira, 13 de junho de 2012

Pedro Páramo

«Vim a Comala porque me disseram que vivia aqui o meu pai, um tal Pedro Páramo. Foi a minha mãe quem mo disse. E eu prometi-lhe que viria vê-lo quando ela morresse. Apertei-lhe as mãos como sinal de que o faria pois ela estava à beira da morte e eu disposto a prometer-lhe tudo. «Não deixes de ir visitá-lo», recomendou-me. «Chama-se assim e assado. Tenho a certeza de que gostará de conhecer-te.» Na altura nada mais pude fazer para além de lhe dizer que sim, que o faria, e de tanto lho dizer, continuei a dizê-lo mesmo depois do trabalho que as minhas mãos tiveram para se afastarem das suas mãos mortas. Imediatamente antes, dissera-me:
- Não lhe vás pedir nada. Exige-lhe o que nos pertence. O que nos devia ter dado e nunca deu… O esquecimento a que nos votou, meu filho, cobra-lho caro.
- Assim farei, mãe.
Mas não pensava cumprir a promessa. Até ter começado, há muito pouco tempo, a encher-me de sonhos, a dar asas às ilusões. E assim se foi formando um mundo em torno da esperança que era aquele senhor chamado Pedro Páramo, o marido da minha mãe. Por isso vim a Comala.»

Juan Rulfo em Obra Reunida (tradução de Rui Lagartinho, Sofia Castro Rodrigues e Virgílio Tenreiro Viseu, Cavalo de Ferro)

Sem comentários:

Enviar um comentário