domingo, 17 de fevereiro de 2013

O Devaneio Cósmico

«O devaneio cósmico (...) é um fenômeno da solidão, um fenômeno que tem sua raiz na alma do sonhador. Não necessita de um deserto para estabelecer-se e crescer. Basta um pretexto - e não uma causa - para que nos ponhamos em "situação de solidão", em situação de solidão sonhadora. Nessa solidão, as próprias recordações se estabelecem como quadros. Os cenários dominam o drama. As recordações tristes adquirem pelo menos a paz da melancolia. E isso ainda coloca uma diferença entre o devaneio e o sonho. O sonho permanece sobrecarregado das paixões mal vividas na vida diurna. A solidão, no sonho nocturno, tem sempre uma hostilidade. É estranha. Não é verdadeiramente a nossa solidão.
Os devaneios cósmicos (...) colocam-nos num mundo, e não numa sociedade. Uma espécie de estabilidade, de tranqüilidade, pertence ao devaneio cósmico. Ele nos ajuda a escapar ao tempo. É um estado. Penetremos no fundo de sua essência: é um estado de alma. (...) as imagens cósmicas pertencem à alma, à alma solitária, à alma princípio de toda a solidão»

Gaston Bachelard em A Poética do Devaneio (tradução de Antonio de Padua Danesi, Livraria Martins Fontes Editora)

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