"Adrienne Lefebvre não se limitava a adivinhar o futuro do cliente, punha-o também no trilho certo, de modo a sair da roda do vício. Lefebvre pedia aos seus clientes, tudo pessoas de surpreendente erudição, que escrevessem, por ordem, os dez livros mais significativos para a sua vida. Pela escolha do cliente, determinava o padrão. «Ora, à cabeça, temos um Kafka, um Orwell, um Homero. Vejo um divórcio no seu futuro, algum problema de consciência e um conflito moral, vejo até, talvez, uma acção judicial interposta pela sua futura ex-mulher. O senhor sente-se pressionado a fazer grandes coisas, mas acaba as tardes no café do bairro, com uma aguardente nas mãos, por vezes a discutir o jogo de domingo.»
«No sentido da cura e convalescença, proponho uma mudança literária, uma volta e revolta na leitura. Para já, há que abandonar a livraria do costume, onde nos dirigimos a determinadas prateleiras. É preciso ir ao escaparate das novidades ou ler outro tipo de clássicos. Há que ler um Chandler pela manhã e um Rabelais ao deitar. Durante o dia, aconselho a pelo menos quarenta e cinco minutos de Cyrano ou um pouco, nunca menos de meia hora, de Aristófanes. Isto no seu caso. Mas mal se sinta melhor, mal sinta que a sua vida segue outro rumo mais de acordo com os seus desejos, largue a comédia grega, que pode dar um ar demasiado leviano à vida e pode até levar à impotência, ou pior, a fazer um comentário sem qualquer profundidade intelectual numa conversa de café. Se tiver dificuldades para adormecer leia um Tolstoi.»"
Afonso Cruz em Enciclopédia da Estória Universal (Quetzal)
«No sentido da cura e convalescença, proponho uma mudança literária, uma volta e revolta na leitura. Para já, há que abandonar a livraria do costume, onde nos dirigimos a determinadas prateleiras. É preciso ir ao escaparate das novidades ou ler outro tipo de clássicos. Há que ler um Chandler pela manhã e um Rabelais ao deitar. Durante o dia, aconselho a pelo menos quarenta e cinco minutos de Cyrano ou um pouco, nunca menos de meia hora, de Aristófanes. Isto no seu caso. Mas mal se sinta melhor, mal sinta que a sua vida segue outro rumo mais de acordo com os seus desejos, largue a comédia grega, que pode dar um ar demasiado leviano à vida e pode até levar à impotência, ou pior, a fazer um comentário sem qualquer profundidade intelectual numa conversa de café. Se tiver dificuldades para adormecer leia um Tolstoi.»"
Afonso Cruz em Enciclopédia da Estória Universal (Quetzal)
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