terça-feira, 7 de janeiro de 2014

não houve vergonha, não há palavras

«A sua falta de vergonha, dado que se tratava de homens que tinham sido gerados por mulheres e tinham de escrever cartas para casa (Que raio escreviam nelas?) não era o pior aspecto do que tinha visto. Sabia que não tinham vergonha, uma vez que o guarda que se encontrava a retaguarda da coluna não sentira qualquer necessidade de impedir a criança de vermelho de presenciar tais coisas. Mas, pior do que tudo isso, se não havia vergonha, queria dizer que havia aprovação oficial. Agora, já ninguém podia encontrar refúgio atrás da ideia da cultura alemã, nem por detrás das afirmações proferidas pelos dirigentes para evitarem que os homens anónimos saíssem de dentro dos seus jardins, olhassem através das janelas dos seus escritórios e vissem as realidades dos passeios. (...) Mais tarde, nesse mesmo dia, depois de ter ingerido a sua ração de brandy, Oskar compreendeu a questão nos seus termos mais claros. Permitiam que houvesse testemunhas, testemunhas como a criança de vermelho, porque acreditavam que todas as testemunhas acabariam por morrer.»

Thomas Keneally em A Lista de Schindler (tradução de Artur Lopes Cardoso, Notícias Editorial)

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