sábado, 3 de agosto de 2013

condenado(s)

«Condenado à morte!
Pois bem, por que não? Os homens, recordo-me de o ter lido não sei em que livro onde só havia isso de certo, os homens estão todos condenados à morte a mais ou menos longo prazo. Que haverá então de diferente na minha situação?
Desde que a minha sentença foi proferida, quantos dos destinados a uma longa vida terão morrido! Quantos dos que, jovens, livres e sãos, esperavam ir ver rolar a minha cabeça na praça de Grève! Até lá, quantos dos que caminham e respiram ao ar livre, entram e saem à sua vontade, me precederão ainda!
E afinal, o que terá a vida de tão lamentável, para mim? Na verdade, o dia escuro e o pão negro do cárcere, a porção de caldo aguado retirado da panela dos prisioneiros, ser rudemente tratado, eu que sou requintado por educação, ser brutalizado pelos carcereiros e pelos vigias dos forçados, não ter um ser humano que me considere digno de uma palavra à qual eu possa responder, estremecer constantemente pelo que fiz e pelo que me farão: são estes praticamente os únicos bens que o carrasco me poderá retirar.
Ah! pouco importa, é horrível!»

Victor Hugo em O Último Dia de Um Condenado (tradução de Isabel St.-Aubyn, Guevel Edições)

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