«As fotografias, é evidente, roubam a alma. Impedem que as memórias se modifiquem, circulem, pois quando as olhamos, vemos as coisas muito parecidas com aquilo que de facto aconteceu. A memória, pelo contrário, é uma construção, evolui, ganha novos contornos, novas interpretações. Todos nós temos capacidade de decorar alguns números, mas essa é a única coisa que poderemos reter com alguma exactidão. Tudo o resto que chamamos memórias dos factos não passa de fantasias em menor ou maior grau. E à medida que alicerçamos o futuro, vamos modificando o passado, esquecemos umas coisas, enriquecemos outras. A alma que se torna mais esclarecida, capaz de ver outras camadas, outras fatias da realidade, reinterpreta o passado de modo mais claro, mais iluminado. As fotografias, ao contrário da nossa memória, estão congeladas, incapazes de evoluir, paradas como pedras.»
Afonso Cruz em Enciclopédia da Estória Universal (Quetzal)
Afonso Cruz em Enciclopédia da Estória Universal (Quetzal)
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