quarta-feira, 30 de outubro de 2013

fecundidade

«Talvez porque tivesse recebido a benção, Joseph era o chefe indiscutido do clã. Na velha herdade, em Vermont, seu pai tinha-se ligado de tal maneira à terra que se tornou o símbolo vivo da amálgama desta e dos seus habitantes. Essa autoridade passou para Joseph. Joseph falava com o assentimento da erva, do solo, dos animais, selvagens e domésticos; era ele o pai da herdade. Quando observava o grupo de cabanas que nascia da terra, quando olhava para o berço do recém-nascido - o último filho de Thomas -, quando marcava as orelhas dos vitelos novos, Joseph sentia a alegria que Abraão deve ter sentido quando a imensa promessa frutificou, quando os homens e as cabras da sua tribo começaram a multiplicar-se. A paixão de Joseph pela fecundidade tornava-se cada vez mais forte. Observava a densa e insaciável sensualidade dos seus touros e a paciente e insaciável fecundidade das vacas. Levava o enorme garanhão às éguas, gritando: «Vamos, rapaz, anda!» Neste lugar não havia quatro casas; havia verdadeiramente uma, de que Joseph era o chefe. Quando ele caminhava, de cabeça descoberta, pelos campos, sentindo o vento agitar-lhe a barba, os olhos ardiam-lhe de júbilo. Tudo à sua volta - terra, gado, pessoas - era fértil, e ele, Joseph, era a fonte, a origem desta fertilidade; era o seu desejo que desencadeava todos os desejos. Queria que tudo à sua volta crescesse, crescesse rapidamente, e se multiplicasse.»

John Steinbeck em A Um Deus Desconhecido (Publicações Europa-América, tradução de Manuel do Carmo)

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