«As pessoas em quem ele admira a correcção e naturalidade de
cada palavra e de cada gesto, antes mesmo de estarem em paz com o universo,
estão em paz consigo próprias. Palomar, ao não se amar, tem sempre procedido de
maneira a não se encontrar consigo próprio cara-a-cara; é por isso que preferiu
refugiar-se entre as galáxias; percebe agora que era pelo encontrar de uma paz
interior que devia ter começado. O universo pode talvez estar tranquilo por sua
conta; ele certamente não.
O caminho que lhe resta aberto é este: dedicar-se-á, a
partir de agora, ao conhecimento de si próprio, explorará a sua própria
geografia interior, traçará o gráfico dos movimentos do seu estado de espírito,
extrairá dele as fórmulas e os teoremas, apontará o seu telescópio para as
órbitas traçadas pelo curso da sua vida, em vez de o apontar para as
constelações. “Não podemos conhecer nada que nos seja exterior passando por
cima de nós próprios – pensa ele agora – o universo é o espelho no qual podemos
contemplar apenas aquilo que aprendemos a conhecer em nós próprios.” »
Italo Calvino em Palomar (tradução de João Reis, edições Planeta de Agostini)
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