quarta-feira, 27 de novembro de 2013

sim

«As pessoas em quem ele admira a correcção e naturalidade de cada palavra e de cada gesto, antes mesmo de estarem em paz com o universo, estão em paz consigo próprias. Palomar, ao não se amar, tem sempre procedido de maneira a não se encontrar consigo próprio cara-a-cara; é por isso que preferiu refugiar-se entre as galáxias; percebe agora que era pelo encontrar de uma paz interior que devia ter começado. O universo pode talvez estar tranquilo por sua conta; ele certamente não.


O caminho que lhe resta aberto é este: dedicar-se-á, a partir de agora, ao conhecimento de si próprio, explorará a sua própria geografia interior, traçará o gráfico dos movimentos do seu estado de espírito, extrairá dele as fórmulas e os teoremas, apontará o seu telescópio para as órbitas traçadas pelo curso da sua vida, em vez de o apontar para as constelações. “Não podemos conhecer nada que nos seja exterior passando por cima de nós próprios – pensa ele agora – o universo é o espelho no qual podemos contemplar apenas aquilo que aprendemos a conhecer em nós próprios.”»

Italo Calvino em Palomar (tradução de João Reis, edições Planeta de Agostini)

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