sábado, 18 de janeiro de 2014

todos os homens são mortais

«Mas não. Não morremos por termos nascido, nem por termos vivido, nem por termos envelhecido. Morremos de alguma coisa. Saber a minha mãe condenada pela sua idade a um fim próximo não atenuou a terrível surpresa: ela tinha um sarcoma. Um cancro, uma embolia, uma congestão pulmonar: é tão brutal e imprevisto como a paragem de um motor no meio do céu. A minha mãe induzia ao optimismo quando, de vias entubadas, moribunda, afirmava ainda o preço infinito de cada instante; mas a sua vã obstinação também punha a nu a falsa segurança da banalidade quotidiana. Não existe uma morte natural, nada do que acontece ao ser humano é natural já que a sua presença põe o próprio mundo em questão. Sim, todos os homens são mortais: mas, para cada um deles, a sua própria morte é um acidente e, mesmo se a conhece e aceita, uma violência ilegítima.»

Simone de Beauvoir em Uma Morte Suave (tradução de Bénédicte Houart, Livros Cotovia)

Sem comentários:

Enviar um comentário