quinta-feira, 22 de maio de 2014

solidão

«Na verdade, aprendi até a gostar da solidão. Não digo que não esteja desejosa de um pouco mais de convívio, e é isso que espero obter a partir do fim deste ano, quando este trabalho acabar. Mas gosto da sensação de entrar no meu carrinho sabendo que durante as próximas horas só terei a companhia das estradas, do grande céu cinzento e dos meus próprios pensamentos. E, quando estou numa cidade com algum tempo para gastar, distraio-me a olhar para as montras das lojas. No meu quarto tenho quatro candeeiros de mesa, cada um de sua cor, mas todos de igual design, com braços estriados que posso dobrar em qualquer direcção. Às vezes percorro as montras das lojas em busca de um candeeiro desses - sem intenção de o comprar, apenas para o comparar com os meus.»

Kazuo Ishiguro em Nunca me deixes (tradução de Rui Pires Cabral, Gradiva)

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