«Ainda assim, escutei atentamente e percebi que o corpo
espacial estava morto.
Vesalius, o médico que dissecava o meu corpo, explicava,
detalhadamente, por que é que nada funcionava e o modo como costumava funcionar
anteriormente.
Comecei a chorar. Apercebi-me que poderia estar morto.
As pessoas reais que eu leio nos livros, quando não têm
corpo, estão mortas.
Se calhar os Homens Planos são simples Homens Espaciais em
ponto morto.
Isso explicaria muita coisa, mas era um atalho que eu não
tinha desejado encontrar quando iniciei esta jornada.
Pela primeira vez era eu que me queria ir embora, deixar
aquele anfiteatro, mas bastava um olhar que fosse, numa sala inteira, fixado em
mim, e tinha de ficar. Lágrimas planas deslizavam pela minha cara linear, e por
breves momentos não consegui reagir.
Mas recompus-me.
A vida é curta de mais para queixumes mesmo quando já se
está morto. Memorizei todas as etapas que Vesalius apresentava na sua lição
anatómica.
Assim que a aula terminou, as luzes apagaram-se. »
Patrícia Portela em Para Cima e Não Para Norte (Editora Caminho)
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