«- Caro senhor, faça-me o favor... Tenho grande necessidade - disse por fim com impaciência.
- (...) O que deseja? - perguntou finalmente a Kovaliov.
- Queria que... - começou Kovaliov -, acontece que houve uma canalhice ou uma burla, nunca mais consigo descobrir. Só lhe peço que publique o seguinte: darei uma recompensa razoável a quem me trouxer esse canalha.
- Faça o favor de me dizer o seu nome.
- O nome não, para quê? Não me convém dizê-lo (...)
- O fugitivo era seu servo?
- Qual servo! Antes fosse, não seria tão grande a canalhice! Quem fugiu foi... o meu nariz...
- Humm! Que nome esquisito! E roubou-lhe uma quantia considerável, esse Menariz?
- Nariz, é nariz, ou seja... não é o que o senhor está a pensar! É nariz, o meu próprio nariz é que desapareceu não se sabe para onde. O próprio diabo me pregou uma partida!
- Mas, em que circunstâncias desapareceu? Não estou a perceber muito bem.
- Não lhe sei dizer em que circunstâncias; o principal é que anda agora a passear de coche pela cidade e se faz passar por conselheiro do Estado. Por isso gostava que fizesse sair um anúncio pedindo a quem o encontrar que mo entregue o mais depressa possível. Julgue por si mesmo: como posso andar por aí desprovido de uma parte do corpo tão notória?»
Nicolai Gógol em O Nariz (tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra, Assírio & Alvim)
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