terça-feira, 19 de agosto de 2014

Eis as Erínias

«E disse mais, mas não o tenho em mente;
   que o meu olhar voara todo lesto
   à alta torre em cujo cimo ardente,
de súbito se elevam, num só gesto,
   três fúrias infernais, sangue tingidas,
   que tinham membros feminis e apresto
e eram de hidras verdíssimas cingidas;
   suas crinas cerastas, serpentinhas,
   por sobre as feras têmporas unidas.
E ele, que bem soube das mesquinhas
   da rainha daquele eterno pranto:
   «As ferozes Erínias eis vizinhas.
Esta é Megera do sinistro canto;
   e chora Aleto ao seu lado direito;
   Tesífone é no meio»; e cala entanto.
Com as unhas as três fendem o peito;
   batem co as mãos, põem-se a gritar tão alto,
   que ao poeta me cingiu temor suspeito.»

Dante Alighieri em A Divina Comédia, Canto IX (tradução de Vasco Graça Moura, Quetzal) 

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