sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Ulisses e Calipso

«Quantas vezes Calipso se queixou do desejo que Ulisses tinha de fugir e lhe assegurou que as águas não ajudariam o movimento dos remos. Pedia-lhe constantemente que lhe explicasse outra vez a queda de Tróia e que lha contasse de cada vez de um modo diverso. Estavam à beira-mar. Também ali a bela Calipso quis ouvir o fim sangrento do chefe dos Odrísios. Com uma vara flexível que casualmente trazia na mão, Ulisses desenhava sobre a dura areia para comprazer-lhe: Aqui fica Tróia - dizia, desenhando uns muros na areia. - Aqui fica o Simoente; supõe que fica ali o meu campo. Havia uma planura (e representava-a) onde fizemos correr o sangue de Dólon [...] Ia desenhar outros objectos quando uma onda lhe levou Tróia, o campo de Reso e o próprio Reso. A deusa disse-lhe então: Que confiança podes ter para a tua viagem nessas águas que apagaram nomes tão ilustres debaixo dos teus próprios olhos?»

Ovídio em A Arte de Amar (tradução de Célia Pestana, Publicações Europa-América)

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