sexta-feira, 22 de abril de 2011

Canção de Outono I

  «Não tarda
  Entraremos no frio das trevas
  Depois do adeus à brevidade viva do verão claro
  Ouso já cair as achas
  Em queda seca e fúnebre no chão dos pátios

  Sei que serei inverno como ele: tremores
  Cólera ódio horrores trabalho a custo e duro
  Ao meu coração fará o que faz ao sol no inferno polar
  Um bloco ardente e gelo

  Tremo só de ouvir as achas que caem
  Não é mais cavo o eco da força que se ergue
  Meu espírito é gémeo das torres derrubadas
  Por golpes infatigáveis de barrotes

  Ritmado por esse som monótono
  Sinto que algures um caixão se faz à pressa
  Quem morreu?
  Ainda ontem era verão
  De repente o outono cai
  Alguém se vai nessa queda muda»


Charles Baudelaire em As Flores do Mal (tradução de Maria Gabriela Llansol, Relógio D'Água)

Sem comentários:

Enviar um comentário