segunda-feira, 2 de maio de 2011

a sonolência

«Stockdale começava agora a reparar numa particular característica da vida da sua formosa senhora, que ele observara fortuitamente mas na qual raramente pensara. Era que ela se revelava marcadamente irregular nas suas horas de despertar. Durante uma ou duas semanas, era toleravelmente pontual, descendo ao piso térreo pelas sete e meia. Depois, subitamente, não se via até ao meio-dia, talvez durante três ou quatro dias seguidos; e por duas vezes ele comprovou certamente que ela não abandonou o quarto até às três e meia da tarde. A segunda vez que reparou nesta tardança extrema foi num dia em que desejara particularmente consultá-la em relação aos seus movimentos futuros; e concluiu, como sempre fizera, que ela estaria com uma constipação, dor de cabeça, ou qualquer outra indisposição, a menos que se mantivesse invisível para evitar encontrar-se e falar com ele, coisa em que lhe era difícil de crer. A anterior suposição foi desmentida, porém, quando ela inocentemente disse, alguns dias mais tarde, quando discutiam assuntos de saúde, que não tivera a mais ligeira complicação, dor de cabeça ou qualquer outra doença desde Janeiro do ano anterior.»

Thomas Hardy em O Pregador Atormentado (Edições Quasi, tradução de Vasco Gato)

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