quarta-feira, 22 de maio de 2013

vida ao contrário

«O passado - a carga violenta à frente dos seus homens pela San Juan Hill acima; nos primeiros anos do seu casamento trabalhava até tarde, pela penumbra estival, na movimentada cidade para a jovem Hildegarde a quem amava; os dias anteriores a isso em que se sentava a fumar com o avô, pela noite dentro, na velha casa sombria dos Button na Monroe Street - tudo isso se desvanecera como sonhos irreais, como se nunca tivesse existido.

Não se lembrava. Não se lembrava com clareza se o leite estava morno ou frio da última vez que comera nem de como os dias passavam - havia apenas o seu berço e a presença familiar de Nana. E depois esqueceu-se de tudo. Quando tinha fome gritava - mais nada. Durante as tardes e as noites respirava e havia sobre ele suaves resmungos e murmúrios que mal ouvia, odores levemente diferenciados, luz e escuridão.»

F. Scott Fitzgerald em O Estranho Caso de Benjamin Button (tradução de Fernanda Pinto Rodrigues, Editorial Presença)


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