segunda-feira, 17 de março de 2014

"Imaginem um mundo em que causa e efeito são aleatórios."

«A maior parte das pessoas aprendeu a viver o momento que passa. A justificação que dão é que se o efeito do passado sobre o presente é incerto, então não vale a pena dar importância ao passado; e, se o presente pouco efeito tem sobre o futuro, então não é preciso medir as consequências do presente. Pelo contrário, cada acto é uma ilha no tempo, valendo por si próprio. Um tio moribundo é acarinhado pela família, não na expectativa de uma herança, mas porque naquele momento ele é amado. Os empregados são contratados, não por causa dos seus currículos, mas pelo bom senso demonstrado ao longo da entrevista. Os empregados maltratados pelos patrões respondem à letra a cada insulto sem se preocuparem com o futuro. Este mundo é um mundo de impulsos. Um mundo de sinceridade. Um mundo onde cada palavra dita remete apenas para o preciso momento em que foi dita, onde cada olhar tem um só significado, cada carícia é sem passado e sem futuro, cada beijo é um beijo do efémero.»

Alan Lightman em Os Sonhos de Einstein (tradução de Ana Maria Chaves, Edições Asa)

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